quinta-feira, 14 de junho de 2007

Toque feminino no pornô

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Candida Royale: ex-atriz é a maior produtora do gênero
31.05.2005 Nem pense em tirar um DVD da manga no primeiro encontro. Também não espere que sua parceira fique empolgada diante de títulos como "Popozudas taradas" ou imagens de sexo explícito na capa. Mas pode apostar que as mulheres gostam de cinema pornô, sim, mesmo que a sua ainda não saiba disso. A bilionária indústria adulta americana está convencida de que vale a pena produzir filmes eróticos para casais sob uma perspectiva feminina. Grandes produtoras, como a Vivid Entertainment e a Digital Playground, estão abrindo espaço para o tema e a Playgirl TV comemora em julho o primeiro aniversário já de olho no mercado internacional. A maré está boa até para iniciativas independentes como a Stella Films Production, que, aos oito meses de vida, prepara o lançamento do quinto filme. "As telespectadoras apreciam nossos filmes porque os homens em cena são gentis e bonitos, as tramas são envolventes e não há closes explícitos", diz a diretora da Playgirl TV, Kelly Holland. Maior do que qualquer roteiro de cinema erótico, a lista de exigências para agradar à audiência feminina continua: "As preliminares e o orgasmo feminino são essenciais e é melhor evitar sexo anal, grupal ou homossexual para não afastar as garotas pouco familiarizadas com cinema pornô. Cenas de facial (quando o homem ejacula no rosto da mulher) também são pouco toleradas. As moças não querem ser retratadas como submissas ou idiotas. Elas adoram ficar por cima e, mais ainda, de ver os homens de joelhos", completa Kelly, mostrando que o feminismo se rendeu e entrou de cabeça no cinema pornô. Há 21 anos, quando abriu sua produtora de filmes eróticos para casais, Femme Productions, a ex-atriz pornô Candida Royalle, hoje com 54 anos, foi chamada de louca pelos distribuidores. Depois de lançar 16 filmes, uma linha de vibradores e um livro, ela aponta qual é a principal qualidade de seus filmes: sinceridade. "O sexo precisa ser real. Dou preferência para amantes que têm um relacionamento de verdade em vez de botar atores que se conheceram cinco minutos antes da ação. Também não faço questão de ter pessoas com grande talento para interpretação e corpos perfeitos. Eu gosto de gente bonita, mas dentro da normalidade. Caras muito fortes, que passam o dia na academia, fazem bronzeamento artificial e pintam o cabelo não entram nos meus filmes. O mesmo vale para as mulheres siliconadas. Procuro a beleza autêntica e natural. Ninguém gosta de seres de plástico", diz Candida, que sempre pede para as atrizes escolherem seus parceiros: "Não é fácil encontrar um casal perfeito. Às vezes, a relação é tão real que acontecem brigas no meio do set e destroem o clímax. Quando encontro um, me sinto premiada."Blablablá antes do beijoComparando, para esta reportagem, seis filmes pornôs da categoria "para casais" - três dirigidos por homens e três por mulheres -, constato que as diferenças são flagrantes nas seqüências de sexo e na trama, que em 99% dos casos é escrita pelo próprio diretor. Enquanto os masculinos costumam ter cenas quentes nos primeiros cinco minutos, os femininos demoram pelo menos o dobro porque precisam criar um clima antes. A idéia de pedir uma pizza e levar o motoboy para a cama definitivamente não empolga as espectadoras. Elas precisam estar convencidas de que também poderiam ter vontade de fazer sexo naquele contexto. Em "Stud Hunters" (2003), de Candida Royalle, foram necessários 25 minutos de blablablá até acontecer o primeiro beijo. A trama é simples: a diretora Carla Divine (Alexandra Silk) e a atriz Giselle Lorngette (Ava Vincent) saem à caça de um ator garanhão para estrelar um novo filme pornô. "Eu quero carne fresca!" - grita Carla diante da fila de candidatos. (Uma curiosidade: a maioria dos homens que aparecem no filme procurara a produção para participar sem receber cachê, atraída por um anúncio que Candida publicou no jornal "New York Post". Muitos ficam nus em cena, mas apenas os quatro que fazem sexo receberam pagamento.) Antes do primeiro beijo, um dos candidatos a garanhão (Brian Bishop) olha nos olhos de Giselle e diz, apaixonado: "Eu quero me casar e ter filhos com você." Eles se beijam longamente até que o ator diz ao que veio e fica nu. A câmera mostra cada detalhe do corpo de Brian. Vestida, Giselle vira segundo plano. As preliminares duram 14 minutos e ele só chega ao orgasmo aos 52 minutos de filme. Depois dela, claro. "Sempre que eu faço um filme, penso primeiro no prazer da mulher, em cena e em casa. Depois penso no prazer do casal", explica a diretora. E, disposta a mostrar que homem não vale nada, Candida manda para o ralo as juras de amor de Brian: na última cena, ele larga a moça e participa de um ménage à cinq com Carla e outros três garanhões selecionados. No site de críticas Rancho Carne, um dos mais completos dos Estados Unidos, o filme foi massacrado: "Com tantas camisinhas e nenhum facial, eu aposto como ninguém se divertiu. (...) Aí está por que homens são os melhores pornógrafos: sabemos do que nós mesmos gostamos. E somos nós que compramos filme pornô." O Rancho Carne tem cinco "bonequinhos" para ilustrar a opinião dos críticos, todos homens, sobre os filmes. "Stud Hunters" recebeu a nota mais baixa: o boneco aparece dormindo - totalmente - no banheiro. Mas uma leitora do site discordou da crítica e deixou seu protesto registrado: "Já que as mulheres estão no pornô, por que elas não podem assistir? Você se sente ameaçado diante de mulheres fortes que também gostam de sexo e não têm vergonha disso? Precisa de um facial para se divertir durante a transa? (...) Eu sinto muito pela sua mulher. Nós também temos o direito de ver um bom filme pornô." Crítico pula os diálogos
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Duas capas de filmes feitos por e para mulheres: visual suave
Criador do Rancho Carne, o webdesigner JR, de 28 anos, vê, desde 2001, cerca de 300 filmes por ano. Ou, pelo menos, parte deles. "Eu sempre pulo as cenas de conversa. A trama do filme não interessa. Quando escolho um pornô, quero ver garotas quentes e sexo selvagem. E, se tiver cena de orgasmo feminino verdadeiro, melhor. Isso é algo raro e inesquecível", diz ele, que geralmente assiste aos filmes sozinho. "No início do site, minha mulher era contra, detestava. Mas começamos a ganhar dinheiro e ela mudou de idéia. Apesar de não ver muitos filmes, ela apóia esse trabalho e pede para chamá-la sempre que há cenas externas e românticas." Na lista de pornôs dirigidos por homens, estava "Midnight Obsession" (1995), do diretor italiano Joe D'Amato. O longa tem belas cenas externas, mas nenhuma romântica. A capa lembra filmes de ação: um helicóptero da polícia sobrevoa uma loura de óculos escuros, biquíni e botas. Para acabar com qualquer dúvida, a primeira cena é de penetração. Depois, sexo oral. Os atores Anita Rinaldi e Alberto Rey não trocam uma palavra, mas mudam de posição sete vezes em oito minutos. Ele chega ao orgasmo, ela não. Na manhã seguinte, a atriz acorda e o parceiro já não está mais lá. Ele não deixou nem mesmo um bilhete de despedida. A segunda cena deixa a impressão de que ir embora após o sexo é uma fantasia masculina: a atriz Erika Bella transa com dois homens, recebe um facial duplo e eles seguem seus caminhos, deixando a moça para trás. Francamente... Mas, é preciso admitir, a história não é das piores. Anita faz o papel de uma traficante de drogas que, flagrada, vai parar numa prisão turca. Todas as mulheres do filme são taradas. Apesar de passar por um momento de crise pessoal, a personagem de Anita transa sem parar com prisioneiros e policiais de ambos os sexos. Ela não dá um sorriso durante os 100 minutos de filme, mas ninguém parece se preocupar com a tristeza da moça. Na maioria das cenas com homens, apenas o rosto de Anita é focalizado, os deles não. O espectador se sente em casa. Já as cenas de sexo anal são tão pesadas que adotei a técnica de JR nas cenas de conversa: melhor pular. "Eu não escondo que fiz cenas de facial quando era atriz. Isso sempre me pareceu uma pequena rebelião contra a repressão ao sexo na sociedade, uma explosão da sexualidade reprimida. Mas, na maioria dos filmes, o facial e também o sexo anal são retratados de maneira grosseira e humilhante para as mulheres", critica Candida, que estreou como atriz pornô em 1975 e tem como próximo projeto mostrar o dia-a-dia de casais verdadeiros num melodrama erótico.A diretora não se importa com as críticas de grande parte da audiência masculina. Para ela, os fãs do pornô deviam se preocupar com a falta de ousadia da indústria: "Quando eu comecei, eram lançados cem filmes por ano nos Estados Unidos. Hoje em dia, 10 mil filmes chegam ao mercado, mas 99,9% são lixo puro, com pessoas pouco atraentes e que nunca se entregam nas cenas de sexo. A produção massiva e a falta de criatividade atrapalham a evolução da indústria de filmes adultos. A maioria dos diretores tem medo de arriscar, inclusive algumas ex-atrizes. Elas simplesmente copiam o estilo dos homens."Horóscopo pornográfico"Zodiac Rising" (2003), da diretora Skye Blue, é um exemplo de pornô para casais que poderia ter uma perspectiva feminina, mas ficou no meio do caminho. A trama, mulherzinha demais, não combina com os closes ginecológicos, deixando as duas audiências insatisfeitas. Eis a história: um jornalista (Trevor Zen) pede a ajuda de sua mulher (Aurora Snow) para escrever a seção de horóscopo de um jornal. O casal entra num mundo de fantasia com representantes dos 12 signos do zodíaco. Ao tentar resumir "Zodiac Rising", um crítico do Rancho Carne se rendeu na sexta linha: "Juntos, eles encontram outros amantes astrológicos e... ei, você ainda está acordado?" O filme escapou do bonequinho dorminhoco e ficou no nível 3 (de 1 a 5 do site) graças às cenas explícitas."Nem sempre as tentativas de fazer filmes para casais dão 100% certo. Muitas diretoras não conseguem reproduzir nos filmes suas próprias fantasias. E são raros os diretores capazes de criar algo erótico sem ser explícitos. Mas não há nada como Candida Royalle, Kelly Holland e Jane Hamilton no mercado de pornôs para mulheres e casais. Elas sabem melhor do que ninguém o que a gente quer na cama", diz a educadora sexual Jamye Waxman, que tem uma coluna na revista "Playgirl" e preside o grupo Feministas pela Liberdade de Expressão. Também conhecida como Veronica Hart, Jane Hamilton é a diretora de "The Pick-up", um dos dois contos retratados em "A Taste of Ambrosia" (1988), da Femme Productions. Exemplo clássico de pornô feito por mulher, o conto começa com uma cena de 1 minuto e meio em que uma morena (Alexis Firestone) lava louça e ouve música vestindo um conjunto de moleton. Um close mostra que, por baixo da roupa, ela usa uma calçola apropriada apenas para lavar louça, fazer faxina na casa ou dormir sozinha. Os cabelos estão presos e ela não usa maquiagem. Na cena seguinte, imagens da mulher tomando banho se alteram com a de um homem (Rugby Rhodes) fazendo o mesmo. Enquanto ela se masturba, ele aparece escovando os dentes, fazendo a barba e passando gel no cabelo. Na terceira cena, o espectador descobre que a morena é uma prostituta. O homem do chuveiro a pega na rua e eles se beijam. Bebem champanhe num restaurante e é ela quem pede a conta. Já em casa, ele se ajoelha e lambe os pés da moça, ainda com meias. O sexo começa quando o filme já está perto do fim, com a mulher recebendo sexo oral. Depois dos orgasmos, vem um romântico beijo na boca. O final é meio óbvio, mas bonitinho. Fofo, eu diria, apesar de achar que o adjetivo jamais deveria acompanhar um filme pornô. O outro conto de "A Taste of Ambrosia", "Nine Lives Hath My Love", de Candida, mostra um casal em crise porque a mulher dá mais atenção aseus gatos do que ao namorado. "Ou eles ou eu!" - diz, histérico, o rapaz. Na cena de sexo, é ela quem toma a iniciativa. Quando a transa esquenta, a câmera se desvia dos corpos nus e passeia pelo cenário. Corpos, quadros de gatos e um vaso de flores cor-de-rosa compartilham o tempo do espectador. "A única coisa boa desse filme é que ele acaba rápido", apedrejou um dos críticos do Rancho Carne. Candida Royalle, claro, está no catálogo de mais de 30 filmes dirigidos por mulheres da sex shop feminina Toys in Babeland, que tem filiais em Nova York e Seattle. Ela é o que há de mais leve, mas não mais feminista. Entre os radicais, há a série "Bend Over Boyfriend", que dá instruções para a espectadora fazer sexo anal no namorado.Com mais leveza, o cinema pornô para mulheres já tem publico também no Brasil. Direcionada para mulheres, a nova loja A2 Ella Conveniências Eróticas, em Ipanema, no Rio, não tem tantas opções tão pesadas, mas o cardápio é variado. "Entre os pornôs nacionais, nunca vi nada parecido. As diretoras brasileiras ainda fazem filmes como os homens. Mas quero oferecer um pouco de tudo e novos DVDs importados estão sempre chegando. Minha idéia é que as mulheres aluguem filmes para ver sozinhas ou para dar de presente aos maridos", diz o proprietário Ralf Furtado, de 34 anos, que, como qualquer outro homem, não pode entrar na A2 Ella. "A loja tem um toque de liberdade total. As mulheres podem falar o que quiserem, sem bloqueio ou preconceito, como um grande banheiro de bar", promete ele. As amazonas e seus vibradores coloridos Uma superprodução para os padrões da indústria pornô, "Search for the Snow Leopard" (1998), de Nick Orleans, é apontado pelo diretor como um filme perfeito para casais, já que não tem cenas de facial nem de sexo anal. Mas uma mulher sã não consegue entender como Eve Taggart (Asia Carrera) acorda arrasada por causa de um pesadelo e, dois minutos depois, já está nua, de joelhos, fazendo sexo oral em seu namorado, um sujeito com muitos músculos e nenhum sentimento (Brick Majors). Asia faz a cena de maneira mecânica, acelerada, profissional e assustadora demais. O fortão tem um orgasmo, Eve imediatamente se lembra do pesadelo e sai de perto, tristonha. O rapaz termina a relação e não aparece mais no filme. Asia não se importa. Ela transa com mais um homem e quatro mulheres até os créditos finais. As cenas de sexo acontecem em situações tão surreais que não deixam a audiência se envolver com o drama de Eve, uma antropóloga (!) à procura de um leopardo. É impossível entrar no clima quando, sem mais nem menos, um grupo de amazonas surge no meio do mato com vibradores coloridos nas mãos. "A relação emocional é tudo para uma mulher. Para eu fazer sexo, preciso de um motivo convincente. Não suporto ver duas pessoas dizendo frases idiotas e, segundos depois, transando loucamente sem qualquer razão. Nos meus filmes, dou muito valor à trama", explica a proprietária da Stella Film Production, Estelle Joseph, de 35 anos, que produz, dirige e filma a série de estréia da empresa, "City of Flesh". Há dois anos, ela era sócia de um coffee shop em Nova York quando, numa conversa de bar com amigas, teve a idéia de abrir a produtora: "Nem eu nem minhas amigas jamais pensamos em atuar num filme pornô. Mas concordamos que seria ótimo poder ver mais filmes desse tipo com um toque sensual e feminino. Apesar de não ter nenhuma experiência neste mercado, resolvi arriscar."Ainda pouco conhecidos, os filmes de Estelle são bem mais picantes do que os de Candida Royalle. Mas não porque ela queira agradar aos homens. "Eu gosto de sexo mais intenso do que o de certos filmes femininos e com a emoção que não existe nos masculinos. As mulheres dos meus filmes têm personalidade forte e transam com prazer, porque estão envolvidas. De qualquer forma, jamais farei uma cena de agressão física. E só mostro facial ou sexo anal se a atriz sugerir. Não sou radical porque sei que, na vida real, há garotas que querem ter um relacionamento sério e gostam disso, assim como de transar com outras garotas. Quando a gente quer e sabe o que está fazendo, nada é humilhante ou sujo", opina Estelle. Para completar a lista de pornôs para casais feitos sob uma perspectiva masculina, vi "Not a romance" (2002). Dirigido por Jonathan Morgan, o filme é uma grande pedida - não para despertar o sexo, mas para acabar de vez com qualquer relação. A primeira cena é de duas mulheres transando dentro de um carro. Uma delas é casada e tem um amante. Este, por sua vez, namora uma moça que também tem outro. O marido da primeira não deixa por menos e arruma um caso. E, quando sobra tempo, cada um transa com seu parceiro oficial. Não é por nada não, mas acho que, ao levar um filme desses para casa, a única coisa que um homem vai conseguir provocar em sua mulher é desilusão. E uma tremenda dor de cabeça.

Um comentário:

crica disse...

Oi meus amores.

Eu estava pensando se as mulheres gostam ou não de filmes pornôs. E dei de cara com esse texto magnífico sobre o assunto.
A minha conclusão é que nós, as cricas, gostamos muito de ver sacanagem sim, melhor ainda se podemos inventá-las também.

Roubei o texto de vocês e colei no meu Blog, com os devidos créditos, é claro. Espero que não se chateiem e se quiserem passar por lá, vou ficar muito contente.

Bjs
CRICA
http://cricasdivertidas.blogspot.com/